A
procissão teve três paradas para reflexão sobre temáticas específicas, dentro
do tema geral da Romaria, sucessão rural familiar, políticas públicas e
sustentabilidade social, à luz do seu lema: eu darei esta terra à sua
descendência, que é a promessa de Deus a Abraão. A primeira parada esteve a
cargo da Emater, e abordou a sucessão rural familiar. A segunda, a cargo da
Cáritas Arquidiocesana, destacou o pedido do Papa: “Por favor, continuem na
luta pela dignidade da família rural, pela água, pela vida e para que todos
possam se beneficiar dos frutos da terra”. A terceira, sob a coordenação do
MST, aprofundou a temática das políticas públicas.
Na
culminância da procissão, houve a missa presidida pelo Arcebispo de Passo Fundo
e concelebrada por outros 8 bispos do Rio Grande do Sul e pelo Bispo de Chapecó
e muitos padres. (Estavam presentes, além do Arcebispo local, Dom Jaime
Spengler, Arcebispo de Porto Alegre, Dom José Gislon, de Erexim, Dom José Mário
Stroeher, de Rio Grande, Dom Canísio Klaus, de Santa Cruz do Sul, Dom Sinésio
Bohn, emérito de Santa Cruz do Sul, Dom Remídio José Bohn, de Cachoeira do Sul,
Dom Liro Vendelino Meurer, de Santo Ângelo, Dom Odelir José Magri, de Chapecó e
Dom Alessandro Rufinoni, de Caxias do Sul).
Na
homilia, Dom Altieri citou o Papa Francisco, que, no encontro com
representantes de Movimentos Populares, em outubro passado, destacava três
grandes aspirações e necessidades de todo ser humano: terra, casa e trabalho.
Recordou a mensagem bíblica sobre a criação que indica a missão do homem e da
mulher de serem os guardiães da terra, que deve ser um grande jardim onde todos
possam viver com dignidade, sem as desigualdades e a corrupção presentes em
nossa sociedade. Mencionou o anseio dos jovens pelo uso consciente da terra.
Concluiu com um louvor e uma exortação. “Bendito o fruto da terra e do trabalho
humano. Bendito o suor de quem o produz. Benditas as famílias do mundo inteiro
que acreditam e não deixam morrer a fé, a história, as lutas, a utopia e o
júbilo da esperança que se concretiza no bem de todos. Que a fé no Deus de toda
Terra, que o testemunho dos mártires de nossas Américas, que o grito de nossos
lábios e do nosso coração convertido ao Amor e a força de nossa união despertem
as autoridades responsáveis pelo cuidado de nosso povo, pelo bem viver de
todos”.
Jovens em
acampamento e na Romaria da Terra: Nos dois dias anteriores à Romaria da Terra, mais
de 450 jovens do Estado participaram do 10º Acampamento da Juventude. Mais de
40 eram da Diocese de Erexim.
No
primeiro dia, domingo, houve painéis sobre Gênero, Modelo de produção, Sustentabilidade
e Direitos Humanos. No segundo dia, segunda-feira, os grupos aprofundaram
aspectos levantados nos painéis, especialmente sobre a sucessão rural e as
questões de gênero. Realizaram também atividades sobre mística e
espiritualidade das causas sociais, abelhas nativas, teatro e juventude rural,
filtro dos sonhos, agitação e propaganda, sucessão rural familiar e autonomia,
sistemas agroecológicos e frutas nativas, necessidades e desejos da juventude
rural, cooperativismo e sindicalismo, juventudes e protagonismo por culturas de
paz, juventude e reforma política, produção de insumos alternativos e economia
popular solidária.
Para dom
Altieri, o 10º Acampamento da Juventude foi “uma oportunidade para a juventude
se sentir parte integrante e responsável na luta pela justiça e pela paz entre
os povos. A força da juventude é fundamental nesta empreitada da vida”.
Os jovens
do 10º Acampamento da Juventude tiveram participação intensa também na Romaria
da Terra, acolhendo os romeiros e romeiras e auxiliando nos momentos de
celebração, mística e animação.
Mostra de
Ações Sociais Solidárias
Já na
última Romaria de N. Sra. Aparecida, no mês de outubro, em Passo Fundo, houve
uma Mostra de Ações Sociais da Arquidiocese, visando divulgar e fortalecer o
trabalho de promoção humana. Na Romaria da Terra, a experiência foi repetida,
sendo coordenada pela Cáritas Arquidiocesana, com a participação de mais de 60
grupos, entre eles empreendimentos da Economia Popular Solidária e
agroindústrias da região. Entre os produtos comercializados estavam
artesanatos, panificação, lanches, sucos, hortigranjeiros e orgânicos.
Carta da
38ª Romaria da Terra: Na conclusão das atividades do dia, com a bênção do envio, foi lida a
Carta desta Romaria da Terra. Ela inicia lembrando o tema e o lema da mesma:
Sucessão Rural Familiar, Políticas Públicas e Sustentabilidade Social, com o
lema: “Eu darei esta terra à sua descendência”. Defende
um projeto social que garanta a vida, colocando no centro o ser humano e a vida
na terra. Apresenta alguns compromissos, entre eles: denúncia do sistema
capitalista, intrinsecamente perverso; defesa da democracia e do direito do
povo brasileiro escolher o seu caminho; luta contra a privatização dos serviços
públicos: combate à desmoralização, à criminalização e à repressão dos
Movimentos Sociais Populares e suas causas; retomada e aprofundamento da
Reforma Agrária, condição inclusive para avançar na agroecologia e na
agricultura familiar e camponesa; esforço para exigir o compromisso do
Congresso Nacional com o Plebiscito oficial por uma Constituinte Exclusiva e
Soberana pela Reforma do Sistema Político; denúncia e combate da violência e
extermínio das juventudes, especialmente a pobre, negra e marginalizada e
outros.
Na
conclusão da carta, os romeiros se declaram animados e encorajados por tantas
testemunhas que doaram suas vidas por estas causas, e, inspirados pelas
palavras do Papa Francisco no encontro com os movimentos populares, quando
afirmou “O amor pelos pobres está no centro do Evangelho” e que “Terra, teto e
trabalho são direitos sagrados”. Manifestam sua confiança no Reino de Deus,
cuja plenitude só se realizará quando não houver “nenhuma família sem casa,
nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”. Renovam o desejo
de que os bons frutos desta Romaria da Terra possam repercutir na vida de todas
as nossas comunidades de fé e de luta.
Local da
próxima Romaria da Terra: A 39ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul e o
Décimo Primeiro Acampamento da Juventude serão no município de São Gabriel, na
Diocese de Bagé. Os eventos comemorarão os 260 anos da morte de Sepé Tiaraju,
líder indígena na defesa da terra do seu povo, e o início das romarias, em
1978. (Com informações e fotos de Pe. Valtuir Bolzan e Victória Holzbach,
assessora de comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo).
38ª ROMARIA DA TERRA E 10º
ACAMPAMENTO DA JUVENTUDE
Carta às Comunidades
A 38ª Romaria da Terra e o 10º
Acampamento da Juventude são frutos de meses de trabalho nas comunidades e nos
movimentos, envolvendo inúmeras entidades, entre elas mais de 15 organizações
juvenis, pastorais e movimentos do campo e da cidade. Para o enriquecimento da
caminhada ecumênica, fizeram-se presente também os irmãos e as irmãs da Pastoral Popular Luterana. Embalados
pelo dinamismo do Espírito de Deus, que nos chama sempre de novo a continuar na
construção da justiça e da paz, da Terra Sem Males, de Um Outro Mundo
urgentemente Necessário e Possível, da Civilização do Amor, da Cultura de Paz e
do Bem-Viver.
Nesse espírito, nos dias do carnaval de 2015, de 15 a 17 de
fevereiro, em torno de 500 jovens do Rio Grande do Sul e
também de Santa Catarina, estiveram reunidos no módulo esportivo
municipal de David Canabarro, juntando-se aos demais milhares de Romeiros e
Romeiras, compromissados/as com os valores e as causas da “Sucessão Rural Familiar,
Políticas Públicas e Sustentabilidade Social”, que garantam que a Terra
seja um dom para a vida e não objeto para negócio, como disse Deus a Abraão “Eu
darei esta terra à sua descendência” (Gn 12,7) e que Sepé reafirmou na
luta do povo índio contra a ocupação imperialista, bradando “Alto lá! Esta
terra tem dono!”
Os/as Romeiros/as do 10º Acampamento da Juventude
foram acolhidos/as com entusiasmo por uma equipe de jovens desde a madrugada do
domingo, que prepararam com muito trabalho e amor, o espaço para o Acampamento
e a Romaria. Logo todas as delegações se integraram e, com vibrante energia e
alegria, com palavras de ordem, canções diversas e muito debate, foram
reafirmando a disposição de serem sujeitos protagonistas de uma nova sociedade,
justa, solidária, equitativa, plural e ecológica.
Refletimos sobre a realidade, ouvimos os clamores
que brotam das mais diversas situações de exploração e opressão, geradas pelo
sistema capitalista, sobretudo na presente fase neoliberal. Procuramos
compreender os desafios que nos são colocados, aprofundando o processo de
transformação, para que haja vida digna e abundante para todos e todas.
Neste debate percebemos que vários projetos estão
em disputa. Todos se apresentam como caminhos de felicidade. Numa época em que
vivemos muitas mudanças, ou mesmo uma mudança de época, precisamos compreender
e discernir o que defende a vida, colocando no centro o respeito ao ser humano
e à vida na Terra. Faz-se necessário resgatar os saberes tradicionais e
populares libertadores de tantos povos, que até hoje resistem e ensinam valores
fundamentais dos quais não se pode abrir mão.
A partir desta reflexão, celebrou-se em comunhão
com as mais variadas expressões de fé, de organização popular e realidades
juvenis, resgatando a caminhada das Romarias da Terra e dos Acampamentos das
Juventudes. Dessa forma, foram consolidados e reafirmados os seguintes
compromissos, como sinal de renovação da Aliança do povo com o Deus da Vida:
- Denunciar o sistema capitalista como
intrinsecamente perverso, pois sua lógica de acumulação a qualquer preço,
movido pela ganância, gera as divisões sociais, exploração, opressões diversas,
sofrimento e morte.
- Defesa da democracia e do direito do povo brasileiro escolher o seu
caminho.
- Lutar contra a privatização dos serviços
públicos.
- Combater a desmoralização, a criminalização e a
repressão dos Movimentos Sociais Populares e suas causas.
- Retomar e aprofundar a defesa da Reforma Agrária,
condição inclusive para avançar na agroecologia e na agricultura familiar e
camponesa.
- Denunciar o agronegócio como um sistema que tem
como lógica o lucro e se sustenta na exploração do trabalho e dos recursos
naturais, em contradição com a lógica da agricultura familiar e camponesa.
- Defender os diversos sistemas da biodiversidade e
fortalecer a luta contra os agrotóxicos e as sementes transgênicas, valorizando
um modelo de produção e consumo saudáveis, pelas práticas da agroecologia, sem
ter medo de mudanças.
- Exigir políticas públicas para a produção,
distribuição e consumo agroecológico, incluindo o apoio à transição de modelos.
- Fortalecer a política como a ação em favor do bem
comum, essencial nos processos de mudança da realidade,
e como uma forma eficaz de amor ao próximo.
- Investir no fortalecimento do trabalho de base e
na aproximação dos explorados e excluídos.
- Lutar pela equidade de gênero reconhecendo o
protagonismo das mulheres, sua participação nos espaços de poder e decisão de
nossa sociedade.
- Garantir uma educação do campo e na cidade que
valorize as especificidades do espaço geográfico e ao mesmo tempo implemente as
políticas de educação inclusiva, de gênero e não-sexista.
- Respeitar e considerar justa toda forma de AMOR.
- Defender políticas públicas substantivas para a
população trabalhadora, em especial para a juventude através de um processo de
trabalho de base permanente.
- Assegurar a participação da juventude e da
população trabalhadora nos espaços de construção das políticas públicas e do
controle social do Estado.
- Exigir o compromisso do congresso com o
Plebiscito oficial por uma Constituinte Exclusiva e Soberana pela Reforma do
Sistema Político.
- Construir novos espaços de formação permanente
sobre a questão de gênero, envolvendo homens e mulheres, na perspectiva de
superação de todas as formas de patriarcalismo, sexismo, machismo e violências
contra as mulheres em todos os espaços da vida.
- Investir em formas de comunicação para garantir o
direito fundamental à informação, que nos convoca ao engajamento na luta pela
democratização dos meios de comunicação.
- Promover um processo de conscientização referente
à demarcação das terras indígenas e quilombolas e o direito de produção dos
pequenos agricultores. Considerando que tanto os pequenos agricultores, quanto
os indígenas e quilombolas são vítimas do colonialismo,
sendo que a união de suas forças é necessária
para a garantia do acesso à Terra e às
suas justas indenizações.
- Denunciar e combater a violência e o extermínio
das Juventudes em especial da juventude pobre, negra e marginalizada.
- Exigir uma política nacional que reconheça os
direitos dos atingidos pela construção de barragens. Lutar contra a construção
de novas barragens, como a de Garabi e a de Panambi, pois queremos “águas para
a vida e não águas para a morte”.
Animados e encorajados por tantas testemunhas que
doaram suas vidas por estas causas, e, inspirados pelas palavras do Papa
Francisco no encontro com os movimentos populares, que reafirma que “O amor
pelos pobres está no centro do Evangelho” e que “Terra, teto e trabalho são
direitos sagrados”. Acreditamos no Reino de Deus, cuja plenitude só se
realizará quando não houver “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem
terra, nenhum trabalhador sem direitos”. Renovamos o desejo de que os bons
frutos desta Romaria da Terra possam repercutir na vida de todas as nossas Comunidades de fé e de luta.
David Canabarro, 17 de fevereiro
de 2015
(Notícia retirada do site a
seguir) http://www.diocesedeerexim.org.br/index.php?pagina=visualizar_noticias¬icia=16666
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