quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Encontro de CEBs dos Estados do Sul e Romaria do Contestado




Encontro de CEBs e Romaria resgatam
memória do massacre no Contestado
Com o objetivo de refletir sobre o massacre ocorrido há cem anos na região do Contestado e fortalecer iniciativas de compromisso com a vida, a justiça social e o cuidado com a Casa Comum, realizou-se o 3º encontro do Sulão das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O evento reuniu cerca de 500 participantes dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no dia 11 e 12 de setembro, na cidade de Fraiburgo/SC, tendo como tema de estudo: “CEBs: Contestado e as questões urbanas”.

Na abertura do encontro, dom Severino Clasen, bispo de Caçador/SC, após citar documento de estudo da CNBB acerca da atuação dos cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade, afirmou: “Precisamos uma Igreja mais leve, livre e funcional. Para isso é fundamental revitalizarmos as CEBs”. Gelson Oliveira, professor da PUC/PR e assessor do encontro destacou a identidade e a mística de resistência dos caboclos do Contestado diante do projeto de morte que se instalou naquela região.  


A guerra do Contestado ocorreu entre os anos 1912 e 1916 no planalto catarinense e paranaense, tendo de um lado coronéis, grandes fazendeiros, a empresa construtora da estrada de ferro e a negligência dos governantes e de outro uma população de sertanejos/caboclos que queriam permanecer na terra e ali trabalhar e viver. Desse que foi um dos mais sangrentos massacres no Brasil republicano, resultou cerca de seis mil sertanejos e mil soldados do governo mortos.

Gelson Oliveira relacionou o jeito simples, ecológico, coletivo, marcado por uma forte espiritualidade da resistência dos caboclos do Contestado, organizados em redutos, com o jeito de ser das CEBs. Depois mostrou diversas contradições existentes entre esses dois modos de ser e de viver e o projeto de violência, dominação, destruição da natureza e morte representado pelo modelo de desenvolvimento dos coronéis, empresas e fazendeiros do período do Contestado. Esse modelo de desenvolvimento que destrói, exclui e mata é reproduzido em grande escala pelo capitalismo especulativo e neoliberal até nossos dias.

De acordo com Oliveira, estamos na sexta onda de extinção da vida no planeta. Hoje são eliminadas, por dia, no mundo, 47 espécies entre a fauna e a flora. Após fazer uma análise aprofundada dos efeitos perversos do consumismo, da crise ética, do uso descontrolado da máquina e da tecnologia, o professor insistiu na importância de vivermos uma vida mais simples, prudente, saudável e solidária. Segundo ele, a população mundial que é de 7,3 bilhões, poderia tranquilamente ser 16 bilhões se tivéssemos uma vida mais simples e moderada.

Gelson ainda falou do crescimento da cultura do ódio no mundo, o que gera fundamentalismos, intolerância, preconceitos e segregação. “Hoje existem 87 muros construídos no mundo para separar populações diferentes”, disse. Diante dessa realidade, citando o escrito “Carta sobre a felicidade”, do filósofo Epicuro, século III antes de Cristo, reafirmou o valor da amizade, da liberdade e da filosofia do pensar sobre si mesmo. Motivou a todos para se reencantarem com a vida no âmbito pessoal, político e eclesial.

No domingo (13), os participantes do encontro das CEBs se uniram com mais de 10 mil romeiros na cidade de Timbó Grande/SC para celebrar e fortalecer compromissos de defesa dos direitos dos pobres, cuidado e preservação da terra, da água e da Casa Comum como um todo. A romaria do centenário do Contestado teve como temática central: “redutos de resistência, esperança e encantamento da vida”. A memória do monge João Maria, figura central na animação da mística de resistência dos caboclos do Contestado foi evocada de muitos modos. Entre eles, a orientação do monge que aponta para a justiça social: “Quem tem mói, quem não tem mói também. E no fim todos ficarão iguais”.

A hospitalidade das famílias que acolheram os participantes em suas casas, bem como a partilha de alimentos pelas comunidades, as celebrações e o espírito de uma Igreja viva, “em saída” e profética marcaram o encontro e a romaria. Da diocese de Erechim, participaram Adirce Cechett, padre Dirceu Benincá, Amereci Bresolin e Vania Pinheiro. O próximo encontro de CEBs do RS será em abril de 2016 na diocese de Caxias do Sul e o próximo Sulão das CEBs também será realizado no RS, em data e local a serem definidos.
Temos presente que a Cáritas Diocesana de Erexim apoiou financeiramente o traslado de ida e retorno dos participantes de Erechim.
(Informações e fotos de Pe. Dirceu Benincá).
 












 

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