Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade,
da Justiça e da Paz
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Brasília,
19 de abril de 2017
REFLEXÃO DE DOM GUILHERME WERLANG
DIA NACIONAL DO ÍNDIO
O dia
do índio foi criado no Brasil por Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540 de
1943 e fixado para dia 19 de abril de cada ano.
A data
é fruto do 1º. Congresso Internacional de lideranças indígenas das Américas
realizado no México em 1940.
Certamente
nós, brasileiros e brasileiras, em sua grande maioria, desconhecemos as
riquezas das culturas, religiosidades, místicas, remédios, conhecimentos da
natureza e toda a imensa sabedoria dos Povos e Nações indígenas. Quando ficamos
apenas no desconhecimento o fato já é grave por si só, mas piora muito quando
OS DESPREZAMOS ou os olhamos como INIMIGOS do Brasil e do progresso e
desenvolvimento.
Em
muitos lugares nós, brasileiros cristãos, chegamos a usar o nome depreciativo
de "bugre" para rebaixá-los ainda mais. Sei que a maioria que não
consegue ver os indígenas com bons olhos e nem ler esta minha colocação com
agrado é consequência de uma mentalidade que nos foi sendo introjetada por 500
anos pelos colonizadores brancos. Somos vítimas de uma história que nos é
escrita, transmitida e contada somente a partir de quem chegou nas Américas
para saquear, roubar, enganar e matar sem dó e nem piedade a todos e todas que
atrapalhassem as "conquistas".
Somos herdeiros
das "Entradas e Bandeiras" que infelizmente continuam sendo
apresentados em nossas escolas como heróis e desbravadores ao invés de
saqueadores, ladrões e assassinos.
Vejamos
como contamos a história com pesos diferentes: se um branco TOMOU à força ou
com mentiras, truques ou promessas de amizade as terras dos indígenas, sem
pagar um centavo, não são vistos como ladrões, como invasores de terras; agora,
se um pobre de qualquer cor ou raça e, especialmente, se um indígena tentar
reaver a terra que lhe foi retirada à força, torna-se inimigo e é marcado para
morrer.
Toda a
história é como uma moeda. Sempre tem dois lados e, portanto, tem duas
"verdades" e também algumas mentiras.
A
história do Brasil que aprendemos é escrita e ensinada pelos conquistadores e
dominadores e nós acabamos aceitando ela como verdadeira e todos os que a
contarem pelo outro lado da mesma moeda, os que a contarem de forma diferente
ou a partir dos povos dominados, derrotados, expulsos de suas terras ou mortos
quando resistissem, são tidos como inimigos do Brasil, inimigos dos colonos,
dos agricultores, das mineradoras, do agronegócio, do progresso e
desenvolvimento. Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da
Justiça e da Paz
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Eu mesmo e boa parte da Igreja, dos bispos, padres,
religiosas/os e lideranças leigas, como os que estão no CIMI - Conselho
Indigenista Missionário - somos muitas vezes assim classificados e chamados de
comunistas, como malfeitores da nação.
Escolas
ou professores que tentarem contar a história a partir da violência praticada
contra os indígenas não serão bem vistos pelos pais dos alunos. Escolas que,
além de colocarem algumas penas de aves e algumas pinturas no rosto das
crianças, serão duramente criticados quando não chamados atenção pelas
Secretarias de Educação.
"Índio
bom é índio morto" é ainda o pensamento de muitos e muitas, mesmo de quem
está lendo esta colocação e de muitos que frequentam missas católicas ou cultos
evangélicos.
Índio
não é palhaço a ser ridicularizado, não é fantoche, não é passado. Índio é
presente e é futuro.
Celebrar
o Dia do Índio é celebrar suas lutas, suas dores, suas culturas, sua sabedoria
mais que bimilenar. Os índios são, aqui no Brasil e nas Américas, muito e muito
mais antigos que a existência do próprio Cristianismo e por isso devem ser
respeitados como Povos, como Nações, como primeiros habitantes, como Pais e
Mães desse chão sagrado.
Seremos
dignos de celebrar o Dia do Índio, quando tivermos a humildade de lhes pedir
perdão e aceitarmos sentar na Escola e Universidade de seu saber acumulado por
milhares e milhares de anos; quando tivermos a coragem e dignidade de vermos
neles e nelas verdadeiros seres humanos e cidadãos com plenos direitos; irmãos
e irmãs nossos.
Enquanto
mantivermos um único paradigma e modelo de progresso e desenvolvimento,
continuaremos no caminho do matadouro, da morte, não somente dos indígenas, mas
dos biomas, dos ecossistemas, da Mãe Terra e da Irmã natureza.
Deus,
com todos os nomes indígenas abençoe nossos IRMÃOS E IRMÃS INDÍGENAS E TODOS OS
QUE ABRAÇAM SUAS LUTAS E CONQUISTAS.
+
Guilherme Antônio Werlang, MSF
Bispo de Ipameri/GO
Presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade,
da Justiça e da Paz/CNBB
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