terça-feira, 25 de abril de 2017

DIA NACIONAL DO INDIO

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
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 Brasília, 19 de abril de 2017
REFLEXÃO DE DOM GUILHERME WERLANG
DIA NACIONAL DO ÍNDIO
O dia do índio foi criado no Brasil por Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540 de 1943 e fixado para dia 19 de abril de cada ano.
A data é fruto do 1º. Congresso Internacional de lideranças indígenas das Américas realizado no México em 1940.
Certamente nós, brasileiros e brasileiras, em sua grande maioria, desconhecemos as riquezas das culturas, religiosidades, místicas, remédios, conhecimentos da natureza e toda a imensa sabedoria dos Povos e Nações indígenas. Quando ficamos apenas no desconhecimento o fato já é grave por si só, mas piora muito quando OS DESPREZAMOS ou os olhamos como INIMIGOS do Brasil e do progresso e desenvolvimento.
Em muitos lugares nós, brasileiros cristãos, chegamos a usar o nome depreciativo de "bugre" para rebaixá-los ainda mais. Sei que a maioria que não consegue ver os indígenas com bons olhos e nem ler esta minha colocação com agrado é consequência de uma mentalidade que nos foi sendo introjetada por 500 anos pelos colonizadores brancos. Somos vítimas de uma história que nos é escrita, transmitida e contada somente a partir de quem chegou nas Américas para saquear, roubar, enganar e matar sem dó e nem piedade a todos e todas que atrapalhassem as "conquistas".
Somos herdeiros das "Entradas e Bandeiras" que infelizmente continuam sendo apresentados em nossas escolas como heróis e desbravadores ao invés de saqueadores, ladrões e assassinos.
Vejamos como contamos a história com pesos diferentes: se um branco TOMOU à força ou com mentiras, truques ou promessas de amizade as terras dos indígenas, sem pagar um centavo, não são vistos como ladrões, como invasores de terras; agora, se um pobre de qualquer cor ou raça e, especialmente, se um indígena tentar reaver a terra que lhe foi retirada à força, torna-se inimigo e é marcado para morrer.
Toda a história é como uma moeda. Sempre tem dois lados e, portanto, tem duas "verdades" e também algumas mentiras.
A história do Brasil que aprendemos é escrita e ensinada pelos conquistadores e dominadores e nós acabamos aceitando ela como verdadeira e todos os que a contarem pelo outro lado da mesma moeda, os que a contarem de forma diferente ou a partir dos povos dominados, derrotados, expulsos de suas terras ou mortos quando resistissem, são tidos como inimigos do Brasil, inimigos dos colonos, dos agricultores, das mineradoras, do agronegócio, do progresso e desenvolvimento. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
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Eu mesmo e boa parte da Igreja, dos bispos, padres, religiosas/os e lideranças leigas, como os que estão no CIMI - Conselho Indigenista Missionário - somos muitas vezes assim classificados e chamados de comunistas, como malfeitores da nação.
Escolas ou professores que tentarem contar a história a partir da violência praticada contra os indígenas não serão bem vistos pelos pais dos alunos. Escolas que, além de colocarem algumas penas de aves e algumas pinturas no rosto das crianças, serão duramente criticados quando não chamados atenção pelas Secretarias de Educação.
"Índio bom é índio morto" é ainda o pensamento de muitos e muitas, mesmo de quem está lendo esta colocação e de muitos que frequentam missas católicas ou cultos evangélicos.
Índio não é palhaço a ser ridicularizado, não é fantoche, não é passado. Índio é presente e é futuro.
Celebrar o Dia do Índio é celebrar suas lutas, suas dores, suas culturas, sua sabedoria mais que bimilenar. Os índios são, aqui no Brasil e nas Américas, muito e muito mais antigos que a existência do próprio Cristianismo e por isso devem ser respeitados como Povos, como Nações, como primeiros habitantes, como Pais e Mães desse chão sagrado.
Seremos dignos de celebrar o Dia do Índio, quando tivermos a humildade de lhes pedir perdão e aceitarmos sentar na Escola e Universidade de seu saber acumulado por milhares e milhares de anos; quando tivermos a coragem e dignidade de vermos neles e nelas verdadeiros seres humanos e cidadãos com plenos direitos; irmãos e irmãs nossos.
Enquanto mantivermos um único paradigma e modelo de progresso e desenvolvimento, continuaremos no caminho do matadouro, da morte, não somente dos indígenas, mas dos biomas, dos ecossistemas, da Mãe Terra e da Irmã natureza.
Deus, com todos os nomes indígenas abençoe nossos IRMÃOS E IRMÃS INDÍGENAS E TODOS OS QUE ABRAÇAM SUAS LUTAS E CONQUISTAS.

+ Guilherme Antônio Werlang, MSF
Bispo de Ipameri/GO
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade,

da Justiça e da Paz/CNBB

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